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  • Alessandra Gravatá

Atenção na Doença

Saúde seria apenas não estar doente?

Habitualmente associamos um estado saudável do paciente à ausência de doença e essa dinâmica de destituí-lo do seu caráter de indivíduo, de alguma forma, ignora seus aspectos emocionais e psíquicos. Esquecendo que todo sujeito está inserido num meio, possui seus valores e crenças e que quando ele adoece, é um doente nesse meio, nessa família, sendo assim, suas crenças e seus valores também adoecem.

Para tanto, quando queremos pensar na doença como uma linguagem do corpo, precisamos validar os cuidados paliativos. A palavra paliativo vem do latim pallium, que quer dizer cobertor, cuidado, proteção. E então precisamos relativizar alguns conceitos como o de sofrimento, pois cada sofrimento é único.

O sofrimento físico, por exemplo, pode causar muito barulho interno, logo, precisa ser tratado com uma urgência por esse olhar do paliativo, porque a medicina é simples, mais objetiva quando comparada com o complexo ser humano, que no momento da doença expressa como pensa e como age diante da dor e do sofrimento social.

Sofrimento social porque quando alguém adoece, a família adoece. O adoecimento é em conjunto. Uma criança, por exemplo, pode adoecer para demonstrar que há algo que precisa ser visto naquele âmbito familiar. Assim como uma doença pode se apresentar de forma repetida, na linhagem. Desse modo pensemos também que quando alguém morre fica um vazio, um sofrimento espiritual. E a necessidade de um contato com a espiritualidade, algo que nos torna muito humanos. Pautando que espiritualidade, aqui, nada tem a ver com religião. Religiosidade é um caminho para a espiritualidade, encontramos espiritualidade na forma de nos relacionarmos com nós mesmos e com o outro, com a natureza, com o universo à nossa volta. Enquanto humanos, buscamos sentido para nossa existência, como dizia Nietzsche “tem que existir um porquê, pois assim aguentamos qualquer como”. Se olhamos de perto a nossa humanidade, iremos considerar todos esses aspectos, uma vez que somos humanos e os humanos vêm com tudo isso. Mas você pode só olhar para a doença, é uma opção.

Mas saiba que a cura da alma e a enfermidade do corpo, às vezes, caminham juntas, parece antagônico dizer que precisamos entrar em harmonia com a nossa doença para entender o equilíbrio do conjunto. De fato, o sofrimento físico funciona várias vezes como terapia de emergência da mente e da alma.

Assim, como a ciência produz que o sintoma é a forma do corpo avisar que algo não está em harmonia, podemos dizer que a depressão é uma tentativa desesperada, quem sabe, de dizer que não se aguenta mais ser triste e que se precisa ser feliz.

Nesse sentido, doença surge como uma oportunidade de revermos nosso posicionamento ante a vida, e, por outro lado, a espiritualidade surge como tratamento com eficácia comprovada para acabar com o sofrimento do homem. Isto é, considerando a espiritualidade como a forma que nos relacionamos.

Entendendo a espiritualidade dessa forma, como um meio de troca, co-construtiva, abrimos espaço para sentimentos como a compaixão, a solidariedade, a moderação e a humildade tanto para com os outros como para com a gente mesmo.

A doença indica uma tarefa a ser executada, uma oportunidade de crescer, pois com o sintoma emerge um pouco da nossa sombra, ou seja, aquilo que é inconsciente, considerando uma perspectiva junguiana. A ferida não surge no momento em que se coloca o dedo sobre ela. A ferida já está lá. Colocar o dedo é um ato corajoso que nos possibilita obter a cura.

Os sintomas emergem das profundezas da alma para a superfície do mundo corpóreo, para confrontarmos forma e conteúdo, posto que ambos são importantes. Enfatizando que a vida em harmonia exige que de uma maneira inacabada, vivamos a produzir equilíbrio entre luz e sombra. Compreendendo que o que é oposto se complementa.

A questão é que quando adoecemos temos que estar presentes. Prontos a entender que o presente é o único tempo que existe. Seu corpo físico nunca vai viver o futuro, ou o passado. O futuro não vai chegar com uma velocidade maior que 60 segundos por minuto. E o presente contém o passado da forma que você processou.

E para entendermos a doença como um meio e forma de cura, é preciso livrar-se da culpa. A culpa humana primordial reside no abandono do paraíso, no erro que nos tira o paradisíaco, daí o medo de errar. Tudo tem a ver com o medo. Não temos mais nada a temer a não ser o nosso próprio medo. Ninguém adoece “porque” quer, nem permanece assim por desejo. Mas, porque de alguma forma há algo que precisa ser avisado, há desarmonia no sistema.

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