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  • Alessandra Cattani

Traduzir a tradição


A tradição de um povo é definida por fatores multidimensionais. O lugar, o clima, a história, as condições alimentares, necessidades de trabalho e interação com a natureza.

A globalização por muito nos traz a errônea sensação de que somos iguais.. E por certo isso deveria nos colocar a equalizar as tradições, o que traduz tudo errado.


Não há nada mais equivocado do que tentar traduzir uma tradição. Certa vez uma paciente me perguntou se eu achava que os africanos tinham muitos Deuses. Minha reação imediata foi dizer que não acho que ele entendiam “Deus” no singular ou plural como nós entendemos. E essa é uma reflexão que me vem à muito. Ao experimentar uma fruta x diferente, somamos: parece melancia com melão. E que tal se tentássemos apenas aceitar o novo ou diferente como ele é? Apenas a fruta X?!


No aprendizado de outras línguas isso se faz muito presente, não traduza fale em inglês , italiano, japonês e assim segue. A tentativa dessa tradução sem dúvidas irá transviar o real significado. Isso vale para interpretar a vida dos outros. Ou a nossa própria.


Traduzir a vida do outro para nossa vida, e linguagem em absoluto trará distorções, vácuos e interpretações equivocadas. Quando espelhamos quem somos em quem o outro é, estamos falando de reflexo e ainda reflexo.


Gosto de olhar para minha vida com a singularidade que lhe pertence. Inclusive a cada escolha. Um caminho não será mais ou menos tortuoso que outro. Essa é uma grande ilusão que nos propomos. Um caminho é único e traz com ele suas curvas, ladeiras, pedras e pistas duplas.


Outro traz consigo outras curvas ladeiras e assim segue. Propôr-se a comparar vivendo no “e se” é colocar-se em sofrimento. Como que falar Português não é “mais fácil” que japonês, para os japoneses. Cada escolha que fazemos é uma renúncia, por isso a cada bifurcação na vida há lutos. Dos caminhos que não percorremos. E cada tradição que escolhemos para nós é única e contém a multiplicidade lugar, o clima, a história, as condições alimentares, necessidades de trabalho e interação com a natureza.


Quando olhamos para nós de forma única, mesmo tendo que lidar com a solidão que essa realidade carrega, no mínimo estaremos sendo honestos com a gente mesmo.

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